A pandemia trouxe, de um dia para o outro, aos docentes uma mudança nas metodologias de ensino e expôs um conjunto de fragilidades que se sabia existirem, embora não com a dimensão que se veio a registar. No sentido de garantir que “ninguém fica para trás”, foi aprovado o Plano 21|23 Escola+, Plano Integrado para a Recuperação das Aprendizagens, na Resolução do Conselho de Ministros n.º 9072021, de 07/07. Esse Plano incide em 3 eixos estruturantes de atuação, a saber, ensinar e aprender; apoiar as comunidades educativas; conhecer e avaliar.

Estava-se no primeiro confinamento, quando surge o Plano de Ação para a Transição Digital (PATD), aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020, de 21/04, assente em 3 pilares: Pilar I: Capacitação e inclusão digital das pessoas; Pilar II: Transformação digital do tecido empresarial; e Pilar III: Digitalização do Estado, com impacto também nas escolas (Medida 1: Programa de Digitalização para as Escolas). Decorrente deste, surge o Plano de Capacitação Digital de Docentes (PCDD) que assenta no Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (DigCompEdu, 2018), tendo permitido o enquadramento da competência digital dos docentes em 3 níveis de formação específica para o seu nível de proficiência digital. Nesse âmbito, as escolas foram desafiadas a definir e desenvolver o Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital (PADD), estando a ser implementado nos mais diversos contextos de aprendizagem escolar, com mais ou menos entropias.

Embora alguns docentes já fossem utilizando as ferramentas digitais nas suas aulas, a verdade é que não se tratava de uma prática generalizada. Com o retomar das aulas presenciais e com muito a acontecer nas diversas plataformas de comunicação, ouvem-se comentários da mais diversa natureza sobre a utilização das tecnologias. Uns acham que já não podem ouvir falar no online, outros, que afinal voltou tudo ao mesmo… Entre estes dois extremos, estará certamente um meio termo.

Com a aplicação do PADD, continua-se a fazer um esforço para a capacitação dos docentes nas tecnologias, mas, desta feita, com orientação formal, por via da formação com o envolvimento da tutela, levando também os alunos a utilizarem ferramentas que os desafiem a desenvolverem e a partilharem conhecimentos, com a utilização de modelos híbridos (rotação por estações, laboratório rotacional, sala invertida, rotação individual, flex, à la carte, virtual enriquecido) em sala de aula.

A par destas iniciativas, estão outras a ser desenvolvidas como o Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, que já vem de 2016, tendo um reforço em 2020 com os Planos de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário (PDPSC), no âmbito da promoção do sucesso e inclusão educativos, que permitiu o alargamento dos recursos (p.e. psicólogos) nas escolas.

Como facilmente se percebe, há uma “onda” a assolar as escolas cujo propósito será, em última análise, que “ninguém fique para trás”. Ora, com tanta azáfama, será desejável que haja “espaço” para olhar para cada criança como um todo, com a sua individualidade, agregando o olhar das famílias, com as suas ambiguidades, naturalmente. Caso contrário, ser-se-á “engolido”, não só permitindo que se deixem para trás crianças, como se perde a oportunidade de ouro de fazer diferente, numa realidade diferente.

Autores

Luis Peralta

Docente de educação especial e membro fundador da SPDA