Como podemos estimular a consciência emocional das crianças

Ao longo da vida, os seres humanos são confrontados com um vasto leque de situações desafiadoras que envolvem uma elevada capacidade de gestão emocional.

Assim sendo, é possível compreender o poder que as emoções, e a sua regulação, têm no nosso dia-a-dia, bem como o seu impacto no desenvolvimento saudável e no bem-estar de todos nós. Daniel Goleman, psicólogo e escritor, define a inteligência emocional como “a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e das nossas relações” (Goleman, 1998).

Desde cedo, as crianças começam a experienciar um conjunto de emoções: como a alegria, a tristeza, o medo, a raiva e o nojo. Quando não conseguem compreender, identificar e processar estas emoções, podem ter dificuldade em gerir e regular o que estão a sentir e, consequentemente, ter dificuldade em estruturar o comportamento mais adequado a adotar, nessas situações. Assim, a dificuldade em falar ou descrever o que se está a sentir, a tendência para reagir com explosões de raiva ou frustração, ou a dificuldade em pedir ajuda quando se está em baixo, são exemplos de sinais de alerta que demonstram baixa inteligência emocional. Estimular o desenvolvimento desta competência desde os primeiros anos de vida é, por isso, essencial.

Mas como o podemos fazer?

Uma das peças-chave para o desenvolvimento de inteligência emocional é a empatia. Ao cultivarmos empatia nas crianças, estamos a permitir que aprendam a valorizar a diversidade, a respeitar as diferenças e a construir relações mais significativas, o que por sua vez, promove um ambiente de compreensão e cooperação, tanto em casa como na escola.

Adicionalmente, a inteligência emocional ajuda as crianças a desenvolver competências sociais essenciais, como a capacidade de comunicação, resolução de problemas e conflitos e a capacidade de trabalhar em equipa. O desenvolvimento destas competências é fundamental para o sucesso académico e profissional futuro, ajudando as crianças a serem capazes de interagir positivamente com os outros e colaborar em projetos e tarefas.

Podemos desenvolver esta competência através de atividades que promovam a indução e expressão emocional, abordando as emoções de forma lúdica (ex. jogos de role-play, mímica, práticas de mindfulnes), permitindo que a criança expresse o que sente no seu corpo, ajudando-a a identificar quais os sinais corporais e comportamentos associados a cada emoção. Os adultos, enquanto principais modelos de ação para as crianças, têm um papel central na forma como a criança perceciona e regula as suas próprias emoções. É assim essencial, para o desenvolvimento desta competência, a adoção de comportamentos emocionalmente inteligentes, que envolvam empatia, autocontrole e respeito pelos outros, por parte dos pais e adultos de referência da criança, permitindo modelar positivamente a adoção de estratégias de regulação emocional funcionais e adaptativas. Investir no desenvolvimento da inteligência emocional das crianças é investir no seu futuro e no futuro da nossa sociedade como um todo.

Autores

Ana Gois

Psicóloga Clínica