O Maravilhoso Mundo dos Tweens (10-12 anos)

O MARAVILHOSO MUNDO DOS TWEENS (10-12 ANOS)

 

É cada vez mais frequente recebermos na nossa prática clínica pais preocupados com os comportamentos “adolescentes” cada vez mais precoces dos seus filhos(as) ainda na pré-adolescência.

Embora sejam ainda crianças, muitos destes meninos e meninas têm uma enorme capacidade de argumentação, um excelente raciocínio e uma curiosidade surpreendente. Por outro lado, continuam a fazer, aos olhos dos pais, alguns disparates… pelo que  temos mesmo de nos  lembrar que são ainda crianças!

Esta aparente polaridade de comportamentos e atitudes tornam o exercício da parentalidade nesta fase particularmente desafiante. Disciplina, trabalhos de casa, tempo com a família… tudo é renegociado. À medida que as mudanças hormonais acontecem, anunciando o início da puberdade, também a vontade de autonomia, a pressão do grupo de pares e as alterações de humor começam a surgir.

Para muitos pais este é um período de algum distanciamento, guerras e conflitos. No entanto, sabemos que esta é uma etapa do desenvolvimento de grande importância para a relação pais-filhos, onde podem reforçar-se vínculos importantes para os anos da adolescência.

Deixamos-vos algumas ideias de como trabalhar a relação e fortalecer o vínculo nesta etapa. Não são revolucionárias ou inovadoras, mas a verdade é que no piloto automático do dia-a-dia, algumas práticas que sabemos serem importantes caiem no esquecimento e por isso vale a pena relermos algumas delas e refletirmos sobre as que nos fazem sentido e estamos dispostos a por em prática:

  1. Mantenha-se em conexão: jantem juntos sempre que possível; passem algum tempo diário (mesmo que só uns minutos) a sós com o(a) vosso(a) pré-adolescente (aproveitem aquele tempo em que são motoristas, por exemplo!); agendem regularmente um tempo especial pai/mãe-filho(a) para os ouvirem. Não o aproveitem para sermões ou críticas, mas sim para estarem verdadeiramente disponíveis para os ouvirem naquele momento.
  2. Reconheça e valide a necessidade que têm de maior independência. Muitas vezes, ao sentirmo-nos com menos controlo sobre o comportamento dos nossos filhos, compensamos tornando-nos superprotetores, o que promove mais comportamentos de alguma revolta ou desobediência. Estabeleça limites razoáveis e que façam sentido na vossa cultura e valores familiares (por exemplo, não há telemóveis durante as refeições) e certifique-se que se mantém empático mesmo quando eles odeiam os limites que estabeleceu. Afinal, testar os limites dos pais é uma das funções dos filhos, enquanto que a função dos pais é estabelecê-los de acordo com os seus valores.
  3. Não personalize. Quando vos disser que são os piores pais do mundo ou que gostavam de escolher outra família…respire fundo… relembre-o da importância de usarem palavras gentis e, se preciso for, afaste-se por uns minutos para se manter calmo. Continue a modelar calma e respeito na comunicação com o outro.
  4. Não subestime o poder das hormonas. O corpo está a mudar… o cérebro também… e estas mudanças provocam uma labilidade emocional por vezes difícil de compreender. Dê-lhes algum tempo para se reorganizarem quando estão no meio de uma “explosão”. Mantenha-se perto se eles assim o desejarem. No final da birra, esteja lá para ele.

Boa sorte! Podíamos dizer que passa depressa… mas não. Logo a seguir vêm os “doces” anos da adolescência. Mas se conseguimos manter-nos firmes na nossa intenção de continuarmos conectados com os nossos filhos e nos formos lembrando de algumas destas ideias, este pode ser um período de muitas descobertas e partilhas.

Autores

Tatiana Carvalho Homem

Psicóloga Clínica. Doutorada em Psicologia Clinica. Especialista em Intervenções com Pais.