Ser adolescente é um desafio, um desafio que a doença COVID-19 torna ainda mais exigente! Com o encerramento das escolas e o período de quarentena obrigatória, muitos adolescentes foram afastados dos mais importantes momentos das suas jovens vidas — para além das actividades próprias do seu quotidiano, como conversar com amigos e participar nas aulas. Para os adolescentes que enfrentam mudanças na vida devido ao surto do COVID-19 e que possam sentir-se ansiosos, isolados e dececionados, que saibam o seguinte: não estão sozinhos!
Traduzido e adaptado do site da UNICEF*, tendo por base as recomendações da Dr.ª Lisa Damour, psicóloga especialista em adolescentes e colunista do New York Times, bem como sugestões da equipa clínica do Psikontacto, aqui ficam algumas dicas para que se possam auto-cuidar e, por consequência, cuidar da vossa saúde mental.
😊 A ansiedade é absolutamente natural
Se o cancelamento das escolas, a declaração do estado de emergência e as notícias alarmantes te deixam ansioso(a), descansa, não és o(a) único(a)! “Os psicólogos reconhecem que a ansiedade desempenha uma função normal e saudável, que alerta para o perigo e ajuda a tomar medidas para nos protegermos” (Dr.ª Lisa Damour); “a ansiedade vai ajudar-te a tomar as decisões necessárias, nas atuais circunstâncias — permanecer em casa, lavar as mãos e não tocar no rosto”. “Esses sentimentos ajudam a manter-nos seguros e aos outros também. É assim que cuidamos da vizinhança, das comunidades e pensamos naqueles à nossa volta. ”
“Embora a ansiedade em torno do COVID-19 seja completamente compreensível, no que toca à informação, devem sempre verificar as fontes consultadas para garantir que são válidas[tais como os sites da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde] ou verificar se estas chegam por canais fiáveis”, recomenda Damour.
Por outro lado, se estás apreensivo(a) e supões que tens sintomas da doença, é importante que fales com os teus pais ou outros adultos sobre isso. As doenças causadas pela infeção por COVID-19 geralmente são leves, especialmente para crianças e adultos jovens, e muitos dos sintomas do COVID-19 podem ser tratados. Para que possas receber ajuda, é importante que os pais ou um adulto de confiança saibam como te sentes ou que preocupações experimentas.
Lembra-te: “Há coisas eficazes que podemos fazer para manter-nos seguros, e aos outros também, tendo um maior controlo sob as circunstâncias: frequentemente lavarmos as mãos, não tocarmos no rosto e mantermos a distância social”.
Se a ansiedade estiver a contribuir para noites mal dormidas e preocupações excessivas, vale a pena reforçar que a informação a tempo inteiro acerca da doença (por exemplo, noticiários, sites, redes sociais, etc.), bem como o uso permanente da tecnologia, podem estar a contribuir para o teu mal-estar.
Para além de tudo, como é difícil prever o desenrolar dos próximos meses, por exemplo, o que será a escola no terceiro período ou quando se realizarão os exames nacionais, é natural que a ansiedade ou outras emoções associadas tomem conta da situação.
A ansiedade pode aparecer de formas muito diferentes: podemos sentir-nos frustrados, cansados e tristes; zangar-nos e comer em demasia; perder a vontade de cuidar da higiene pessoal ou de vestir; ou ainda, estabelecer demasiadas metas para um só dia, “stressando” porque é preciso acabar os trabalhos da escola, treinar um instrumento musical, fazer exercício físico e arrumar o quarto!
Convém, por isso, que te lembres: em relação à escola, os adultos irão encontrar as soluções necessárias e, este ano lectivo, é certo que nenhum aluno será prejudicado. As tuas ideias também contam, partilha com os teus professores soluções práticas que podem facilitar a vida de todos!
As emoções e os sentimentos que fomos descrevendo são legítimos: é importante reconhecê-los e sublinhar que nas atuais condições, o teu contributo é corajoso e irá ajudar o país e o mundo, a ultrapassar a pandemia do CODVID-19. Ainda que se tratem de sentimentos e emoções expectáveis, é importante que encontres tempo para ti (por exemplo, encontra uma rotina diária de exercício físico, assiste à tua série favorita, lê um livro), que te ligues remota e diariamente com uma ou duas pessoas importantes (por exemplo, namorada(o), o(a)melhor amigo(a), um(a) primo(a), tio/tia, avó/avô), que confies algumas das tuas preocupações aos adultos e, por último, mas não menos importante, que abras a janela, te sentes na varanda ou vás ao jardim para sentir o sol, o vento ou a chuva, experimentando a comunhão com a natureza: é bom para o sistema imunitário, é bom para a saúde mental!
👏 Não tenhas receio de sentir
Perder eventos com amigos, hobbies ou a participação em desportos é decepcionante. “São perdas significativas que podem perturbar os adolescentes e todos os outros envolvidos, também adultos”. A melhor maneira de lidar com a deceção? Permanecer com os sentimentos e não lhes tentar resistir: “Quando se trata de um sentimento doloroso, a saída mais conveniente é vivenciá-lo”. Por isso, dá-te ao direito de sentir tristeza. E mais rapidamente conseguirás recuperar.
E como lidam as pessoas com sentimentos dolorosos, sem os negar ou evitar? “Algumas fazem arte, outras conversam com amigas e amigos e, ao partilhar a tristeza, sentem-se conectadas num momento em que não é possível estarem juntas; outras, ainda, tornam-se voluntárias e levam alimentos a quem precisa”, diz Damour.
Desta forma, é razoável esperar que alguns dias te sintas mais tranquilo(a) e com vontade de fazer coisas, e outros, nem por isso.
Respeita os teus sentimentos.
Mas não paralises: tenta organizar a rotina diária, acordar, tirar o pijama, abrir as janelas e preparar mais um dia. O planeamento diário e semanal das tuas atividades é importante, manter o estudo em dia e criar distrações fundamental!
👋 Sê gentil contigo e com os outros
A gentileza e a empatia são os teus grande aliados!
Com gentileza e tolerância, compreendendo o seu papel, as emoções difíceis são mais facilmente acolhidas; a empatia (ou seja, a capacidade para me colocar no lugar do outro), ajudar-te-á a ser mais responsável e a respeitar o que os outros sentem, logo, a participares do bem comum.
Neste momento é possível fazer a diferença! Podes escolher partilhar mensagens de esperança com os teus amigos, ajudar os mais próximos e vulneráveis (talvez um idoso vizinho que agradeça uma carta escrita ou um telefonema amigo), on-line podes ligar-te aos teus avós, professores ou turma e sugerir atividades e distrações, para saberes deles, falar de ti e dos desafios nesta fase, partilhares os teus planos pós-COVID.
Em casa e com a tua família, estarão mais próximos, ficarás mais sensível às necessidades de todos e podes dar o teu melhor: ter o quarto tão arrumado quanto possível, cozinhar uma refeição especial, organizares com os pais álbuns de fotografias (físicas ou digitais); se tens um talento especial, ler um poema, tocar um instrumento ou, simplesmente, usar a tua boa disposição, o humor e rires!
👩💻 Encontra novas formas de te ligares aos teus amigos e usa a tecnologia criativa e sensatamente
Estarás com certeza a usar as redes sociais, e bem, para te ligares com amigos, família e professores.
Aproveita e lança desafios criativos como participar num desafio Tik-Tok, criar stories e partilhar uma receita nova; liga-te a alguém que há muito pensavas falar e retoma antigos laços de amizade e familiares.
Explora com os teus amigos quais as melhores formas de se falarem (explorem plataformas, estabeleçam horários para se reunir em grupos) e criem novos modos para conversar. Se alguém do grupo estiver mais quieto(a), aproveita, oferece apoio e um ombro amigo, poderá precisar de desabafar ou da ajuda de um adulto!
“[Mas] não será uma boa ideia ter acesso ilimitado à TV, jogos eletrónicos ou redes sociais. Isso não é saudável e pode aumentar a tua ansiedade”, diz Damour, recomendando que estabeleças um horário e negoceies as horas de utilização da tecnologia com os teus pais.
Por outro lado, em contextos de isolamento social, procura ser ativo(a) no uso da tecnologia e podes produzir conteúdos. “Passar o dia todo na internet, na televisão, ou nos dispositivos pessoais de forma despropositada, não é bom”. Não sejas simplesmente um recetor de informação, dá sentido ao uso da tecnologia, grava uma mensagem para familiares e amigos que estão em isolamento. Quem sabe consegues aprender a editar? Existem muitos recursos na própria internet para te ajudar a usá-la de uma forma criativa. Podes mesmo usar webinars ou tutoriais para aprender a tocar um instrumento, desenvolver a escrita criativa, aprender a programar, costurar ou cozinhar ou, simplesmente, aprender um pouco mais acerca do universo! Há para todos os gostos 😉
Tudo isto sem esquecer a segurança na internet! É importante que mantenhas todo o cuidado com os conteúdos trocados — e agora, talvez ainda mais (pelo aumento de utilizadores da internet nestas últimas semanas), com as informações pessoais que partilhas ou com os conteúdos a que acedes — protege-te!
😎 Foca-te! Em ti
Concentra-te em ti próprio(a) e descobre maneiras produtivas de usar o tempo recém-encontrado: pratica um instrumento musical, lê um novo livro, escreve um diário. Aproveita os cursos disponíveis (como sugerido) e aprende algo novo. Talvez possas redigir os teus planos em dois, cinco e dez anos!
Na hora em que o aborrecimento chegar, e ele vai chegar, pensa em como o podes transformar em algo positivo e útil! Na verdade, não tens de estar sempre a fazer algo novo ou manter-te sempre ocupado(a). Este tempo não tem de ser uma corrida de talentos e actividades — um tempo de “deixar ir” ou “deixar estar”, em que simplesmente não fazes nada de especial, é importante!
🥰 Cuida-te, na certeza de que tudo irá correr bem!
Autores
Equipa Psik